Criatividade Anônima

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Eu estava em uma das filas de embarque no pequeno terminal rodoviário de Indaiatuba-SP.

Sem muito o que fazer, notei na parede ao meu lado uma pequena bandeira do Brasil desenhada.

Saquei meu telefone e a fotografei.

O que tal bandeirinha tinha de especial?

bandeirinhaPrimeiramente, é preciso falar um pouco sobre a Rodoviária: suas paredes eram originalmente revestidas com plaquinhas de cerâmica amarela. Talvez tenham sido bonitas enquanto novas, mas logo que saíram de moda receberam uma camada de tinta verde sobre elas. A cor verde, por natureza, é muito bela, mas, sendo uma tinta berrante cobrindo uma parede de azulejo, pareceu-me um alto grau de mau gosto.

Talvez por causa disso (ou talvez não) pintaram sobre o verde uma camada de azul escuro, que é a camada atual. Provavelmente, nos primeiros dias desse azul, ele até chegou a dar uma aura de “manutenção do patrimônio público”, mas logo também se pôs a descascar.

Foi quando um passageiro anônimo expressou-se criativamente nessa sofrida parede, possivelmente usando uma simples chave. Ele escavou a tinta e aproveitou cada camada para delimitar as cores das áreas da bandeira do Brasil. O resultado está na foto que tirei.

Muito depois é que fui me dar conta de que acabei apreciando um exemplar de depredação do patrimônio público. Mas logo também ponderei que a horrível parede azul, toda descascada, era um desrespeito muito pior ao mesmo patrimônio. Aquela bandeirinha, pela sua criatividade, acabou sendo algo tão singelo quanto as inscrições que encontramos na lataria empoeirada dos carros desenvergonhadamente sujos: “lave-me”.

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